sexta-feira, 6 de maio de 2011

Intoxicado

Intoxicado, pelo ar que tu respiras.
Golpes certeiros, pela conduta inqualificável.
Fervilho, com o ritmo frenético do teu desatino.
Tudo que parte de ti, move as minhas montanhas.
Exceto o que te paralisa.

Exaltado pelos acontecimentos,
Enfoquemos o momento e a tua presença célebre.
Ilustre, eu diria, diria ilustrando com as cenas que foram cortadas.
O desejo do escritor, parte de um príncipio;
Criar o que escreve e escrever o que cria.
Reduntante seria, se o meu não fosse o mesmo.
Rescrever  e criar a nossa cena.

Tive a privacidade invadida;
Teus olhos foram penetrantes
Até demais, foram além.
Observaram um pouco mais do que a fantasia do dia.
Já que invadistes o que eu chamava por fronteira, não poderás voltar.
Finca as tuas raízes em mim.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Eu aceito

Cortinas serpenteavam em cores.
Máscaras em dia de carnaval.
Fui fisgada pela viagem que propusestes.
Do teu barco sem porto, fiz uma morada
Havia comemoração em teu semblante que desafiava o meu.

Da crença que não se podia, fizemos a dúvida prevalecer.
Agora tudo é festa.
Minhas meninas de paête reluzente, pulam entre poesias e serpentinas.
Com teu paletó branco, meio boto, meio malandro, te convidas a entrar.
Boto que nada.
Passou da Meia noite.
O boto virou homem.

Não cabe mais a máscara, o boto nem as cortinas.
De início, fiquemos com o carnaval.
Refaçamos a nossa folia.
Façamos paradas nos portos da vida.
Me deixa soprar a vela para o caminho que desbravaremos.
Segura a minha mão e me desafia.
Eu aceito.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O Eu de mim pra ti.

Minha forma de estar no mundo.
Deformada, desregrada,
Só não, desarmada.

Identidade mafiosa de quem não quer uma só.
Lutando guerras necessárias em decorrência das escolhas.
Compactuo com a rebeldia de não calar dentro de mim o meu barulho.
Porém disposta a pacificar por ti.

Lentes e filtros, para escoar uma dose de supérfluo.
Mãos e abraços, para acolher uma dose de mazelas.
Boca e tato, para dizer que não suporto mais.

Amor recíproco e infeliz, sôa pior.
Aliás, é o único que não comparece na mesa do bar.
Mando a conta do analista quem sabe um dia, quando tiver a intenção menos clichê de saber quem sou.
Eu de mim, eu pra ti, eu pro mundo.
Pra cada um tem um jeito, um trejeito, uma história.
Um, não agrada o outro, o que torna difícil  um encontro casual.

Não é receita de bolo, muito menos de essência.
O ente não é mais nem menos só porque tem o seu lugar.
Cativa, disse a raposa, mas a distorção é tão grande, que é difícil acompanhar.
Pontuo, se eu prosseguir vou mentir.
Vou falar do que não sei, pra embelezar a dor com rimas;
Vai parecer faceta, e dessas, eu e tu, já não suportamos mais.

sábado, 12 de março de 2011

O Outro.

Busco.
Olhar para a tua dor, é esquecer da minha.
Cuidar-te é colocar bandagens em feridas, abertas pela minha história.
Amar-te, é correr na contra mão do riso, é perpetuar em ti as minhas asas protetoras.
Julgar-te, é repreender tudo aquilo que me irrita, me provoca, que de mim faço igual.
Guiar-te, é secretamente te levar para o meu final feliz, aquele que provavelmente chorei ao final.
Unir-te, é dialogar com o vazio que não se preenche com comida, mas se completa na extensão da tua dor.
Repreender-te, é evitar o genuíno abismo, mas dessa vez, não é o seu.
Ouvir-te, é pinçar em meio as palpitações,as que insistem em chamar a minha atenção, que sim, fazem sentido.
Tudo o que posso tentar por ti, é ineficaz.
Tudo o que posso querer pra ti, não se válida.
É meu, tudo meu, sempre foi meu.
Te acompanho, até a próxima parada, de lá, quem vai saber?
Eu é que não sou.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Sufocado.

A dualidade que brota em ti, me espanta, me encanta, me arrebata.
O pouco que sei, vira muito, vira tudo, tudo ou nada.
A linha, como a do equador, que divide o meu do teu.
Pulo dentro, dentro e fora, do calor que vem de dentro.
Me enfeito, te ajeito, me desarmo, te desejo.
Como feito uma criança, te dou o que sinto, sem barganhar.
Ouço o vento, ouço a vida, que recriminam a falta de tato.
Faço rimas, des-rimadas, é dificil traduzir;
Me sinto fora, do que é comum, e vejo olhos me observando e não são os teus.
Me avaliam, te afastam, nos julgam.
O que importa, o que somos, se ainda seremos o que podemos ser.
Temo pelo o que sei, mas quero que me digas o resto.
Liberta, vai, liberta o meu amor.
Liberta, mas não pense em dizer não, quando eu chamar.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

SEM o PÉ do velho e NEM a CABEÇA do novo.

O que apavora é o que impulsiona;
O reflexo que vejo sempre é mais distorcido do que o que o outro vê.
E sempre mais honesto.
Vem de dentro, vem de mim.

O novo assusta e o velho me faz sentar;
Naquela macia cadeira de balanço colorida;
Tão quente e amiga.
A cadeira parou de balançar aos poucos, a costa começou a doer.

Por mais novo que fosse o novo, me recebeu de braços abertos.
Com um chá e um sorriso largo, devagar me convenceu.
Já não parecia tão novo, o novo foi ficando familiar.
Não tão confortável, mas era um desconforto gostoso de estar.

Era como procurar coisas proibidas nas gavetas da infância.
Como burlar uma regra inocente;
Era como encontrar o que estava por detrás daquela porta.
Meu caro amigo, talvez minha distorção não faça sentido, confessei.

Para o seu velho amigo, sempre o fará;
Para o novo que tudo desconhece, te dou a possibilidade de me re-contar.
Falando tudo de novo, essa distorção pode mudar.
Torcer mais, distorcer menos.
Mas nunca, como antes.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Cair da Noite

Cair da noite,
Escuridão tardia,
Na espreita de uma sombra
Para o segredo em fim revelar,
Aguçados, mexidos, imersos.
O conforto do silêncio, quebrado pelo desconcertante desejo.
A beleza desta humanidade mortal tão despida
Arranca-me os tecidos sem os dedos;
A boca, hora cor de carmim, hora branca pela ausência de sangue.
O delírio invadindo meus poros, minha sanidade fugindo pelo suor.
Minhas mãos tateando sem sucesso aquilo que não se pode apalpar.
Tal como a cortesã, que tem em sua carne o templo.
Fui prostituída pelo desejo de ser tua,
Dar-te minha carne como templo.
As figuras do imaginário nunca foram tão ricas e provocativas.
Zombam das limitações convencionais.
Ignoram a carcaça do corpo que se tornou pesada.
Maltratam, machucam, deliciam-se.
Tonta, salivo minha pele, implorando para que a distância se encurte.
Teus olhos atentos procuram em mim os efeitos de tua presença.
Raiar do dia,
Luminosidade vital,
Luz que expõe os resquícios da surdina.
A cortesã junta suas peças do chão, se prepara para a partida a francesa.
Com os passos exaustos, te avalia e sorri.
Encontramos o lugar, onde ninguém desconfia do que temos de mais sujo.
Dentro de ti estou segura.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O quê, não se sabe.

O que não aparece entre uma ou duas taças
Aparece por detrás dos teus olhos temerosos
Queima, queima por dentro.

Os meus versos não alcançam o teu interior
Só alcançam o silêncio.
Sôa como vidro quebrado.

Quando tento medir o tempo, me perco.
Não há medidas, não sei o que há.
Nem se há.

És fiel na tua inconstância
Alternas com a elegância de quem fala sem o som.
Diálogo mudo.

Observo atenta tua meninice
Que me acaricia e me envolve com ternura
Até me adormecer, na palma de tuas mãos.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Amália


Eu era espectadora do meu próprio sofrimento.
Lágrimas secas de lembranças inexistentes.
A dor, não me era familiar.
Como gostaria que fosse.

Dizem que a dor é poética.
Eu a vi patética, pela pirraça de não comparecer;
Eu, que carrego em meu nome o amar das vísceras e a dor de Amélia.
Aquela que era mulher de verdade;
Como sofria Amélia.

Se não fosse esse amor que me sobra;
A dor certamente passaria; nem que fosse ao chá das seis.
Como dói não me doer.
Essa dor sentida se esconde nas entranhas do meu útero.
E lá, se torna muda.

Calando-se sabe até quando.
O amor é de fácil pertencer;
Sofrer cabe as Amélias.
Amar e pedir pra sofrer, só as Amálias o fazem.