domingo, 6 de maio de 2012

Adeus.


Aquela meia taça que você deixou pra trás, secou.
Secou também o meu amor;
Descobri no centro do teto um honesto sentido para me ocupar das lembranças;
Vi-te passar como um filme antigo de aspecto mofado e cansado;
Teus cabelos estavam imaculados no tempo;
Havia brilho, neles e em mim.
Por um momento eu julguei que de tão visceral, teria pra todo sempre um jardim secreto, onde te pudesse re-visitar em meio um devaneio e outro.
Receio que entreguei as chaves do jardim. Elas estavam em um molho com muitas outras; Dei a um estranho e o segui.
Tal quando criança, eu fui seguindo suas pegadas fundas e seguras. Ele me lançou um olhar tímido por detrás dos ombros, em seguida estendeu uma das mãos e eu as segurei de pronto.
O filme ficou no jardim, junto contigo e o que restou. Foi tão secreto que não pude mais haver de volta, nem mediante as preces para São Longuinho.
Não, não.
Não ouso me despedir, mas de certo vislumbrastes o adeus escorrer no beijo protocolado de despedida.
Dói te olhar e não sentir;
Alvo de tanto querer, te deixei perder o sentido com o costume da ausência;
Do nosso mundo emerso, submergirmos e agora voltamos a ser apenas eu e tu;
Vou seguir viagem, aqueles olhos tímidos têm sede;
Bons votos e Boas festas desde já, que a vida seja suave com as tuas mazelas!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O pudor

Lá, ele só via os contornos do seu pudor;
Onde as mãos eram delicadas e gélidas
Permeadas de sorrisos esbranquiçados.
Arde outra vez.

Inquieta a paz de outrora e vibra,
Que quietude mais metida ela tem;
Só quer burlar a tua cara de bobo
Atiçar teu fogo com recusas de entrelinhas.

O pudor se alimenta da tua ira,
Convida-te a revisitar;
Zomba do teu desejo, sapateia na intimidade;
O relance que vê naqueles olhos são súplicas flamejantes ao longe.

Usurpo a atenção, agora é tudo dela;
Está envolvido e entregue aquele joguete
Desfazendo-se do olhar, ela venceu vitoriosa;
Tem a curiosidade dos olhos dele em si.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cristal do teu olho



No cristal do teu olho eu o vi.
Refletindo com triunfo de ti mesmo.
Vi nas entrelinhas, no pesar da cabeça.
Vislumbrei tua batalha interna.
E do lugar da platéia, não pude fazer mais que apreciar.
Apreciar-te, depreciando a tua guerrilha.
Nos teus segundos de cólera perpétua
Ergui as armas do chão e fui juntar-me a tua guerra.
Avistei tuas formas distantes, no terreno de poeira alta.
Lá, bastava uma única pedra.
Não havia uma alma sequer para contar histórias pitorescas.
Encontrei-te deitado, misturado com a terra e com o vento que a embalava.
Fui então largando as armas pelo caminho até chegar a ti.
Clarificando o confuso esquema tático.
Não tínhamos o inimigo.
Julguei, ele havia fugido.
Fugiu, para as tuas vísceras.
Contemplando-te em meio ao relento, Te estendi a mão.
Olhando-me com súplica, vi no cristal do teu olho.
Não posso fugir de mim mesmo.
És deveras digno.
Tua alegria de viver andou pro extremo oposto.
Tento em vão recordar-te.
Fora do cárcere o lugar é seguro.
Tem gente decente, honesta.
Existem almas amigas, almas poetas.
Existem sonhos que podem ser almejados por todos!
Por apenas a bagatela da sua coragem.
Com teus olhos tristes de ressaca, ressaca da vida.
Lembra-me da miséria.
Miserável ser humano.
Apodrece tudo que toca.
Vejo a linha tênue dos teus sinais vitais entre a terra e os céus.
Num ato de te devolver a vida.
Rogo as preces a Maria das Dores tua reles protegida.
És escada, minha estrela.
Com pesar, anuncias tua morte.
Um pouco antes de debruçar-me sobre teu corpo.
Abraças-me e sorri.
Cara amiga te digo que matei, mas matei o pior de mim.
No cristal do teu olho, eu vi.
Não mais o medo.
Vi o desejo de voltar de braços dados para o mundo dos sonhos.