Vivemos na era
do pensamento líquido. Inconstantes, intensos, indecisos. Então me ocorre
batizar o momento como a grande crise do “i”. Veja, eu esqueci de mencionar o
qual em minha opinião é o mais importante “i”, a insegurança. É muito simples,
compartilhamos um mundo cheio de possibilidades e quando pensamos nos antigos é
inevitável pensar em contextos familiares onde as grandes escolhas significativas
como carreiras profissionais, relacionamentos, por exemplo, eram feitas pelos
patriarcas, ou seja, o campo de possibilidades daquele jovem automaticamente se
tornava restrito e sua vida aparecia delineada em uma grande projeção pelos próximos
anos.
Fomos
então evoluindo, pintamos as caras, queimamos sutiãs e ganhamos o “direito” teórico,
de decidirmos pela nossa própria projeção de vida. Os demais ganham direito de
opinar, manipular talvez, mas a decisão se torna própria. E é ai então que
ganhamos novas lentes e passamos a enxergar naquele campo restrito as outras
diversas possibilidades, os outros caminhos. A sensação de podemos tudo, que eu
vou chamar gentilmente de síndrome da “lua de cristal”, tudo que eu quiser eu
vou tentar melhor do que eu já fiz, ou o cara lá em cima vai me dar, me dar
toda a coragem que eu quiser pois eu vou tentar a sorte de ser feliz. O começo
da grande confusão é que como ser humano, somos um organismo que se auto-regula
constantemente para conseguir um tipo de equilíbrio que nos mantenha
satisfeitos e dentro de nós existem muitos caminhos para sermos felizes,
podemos ter talentos diversos, muitas habilidades, testar todas requer tempo, e
alguém já disse um dia “Quem abre muitas portas, acaba não adentro nenhuma
verdadeiramente” Não há mais uma voz social que te condene, tudo parece ser
permitido o que faz com que as costas dos jovens se tornem largas.
Fazer
uma escolha, nos implica em deixar passar as outras possibilidades, e nesse
novo momento afoito de querermos experimentar o gosto de tudo, de tudo que
vinha nos sendo negado em nossa história, nos limitamos em começar caminhos e não
segui-los até o fim, algo te chama atenção pela trilha e te faz desviar de
rumo. Não estou de forma alguma julgando tais fatos como bons ou ruins, mas
deixo claro que em minha opinião estamos caindo “de cabeça” às avessas. A
intensidade em questão, não é viver o estilo carpediem, “Viva cada dia como se
fosse o último”, intensidade para mim é não ter medo de fazer escolhas, e
perder as outras, confiar na sua capacidade de decidir. Mergulhar na sua idéia até
seu último fio de cabelo, escolher um caminho e acreditar nele mesmo que você
venha arrepender-se ou troca-lo de acordo com a sua conveniência, mas se manter
crédulo e envolvido enquanto ele durar, não pensando no seu fim, mas pensando
em sua evolução. Sou fruto do pensamento líquido, por tanto, se alguém
descobrir como se faz isso, eu ficarei muito grata em saber.