quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cristal do teu olho



No cristal do teu olho eu o vi.
Refletindo com triunfo de ti mesmo.
Vi nas entrelinhas, no pesar da cabeça.
Vislumbrei tua batalha interna.
E do lugar da platéia, não pude fazer mais que apreciar.
Apreciar-te, depreciando a tua guerrilha.
Nos teus segundos de cólera perpétua
Ergui as armas do chão e fui juntar-me a tua guerra.
Avistei tuas formas distantes, no terreno de poeira alta.
Lá, bastava uma única pedra.
Não havia uma alma sequer para contar histórias pitorescas.
Encontrei-te deitado, misturado com a terra e com o vento que a embalava.
Fui então largando as armas pelo caminho até chegar a ti.
Clarificando o confuso esquema tático.
Não tínhamos o inimigo.
Julguei, ele havia fugido.
Fugiu, para as tuas vísceras.
Contemplando-te em meio ao relento, Te estendi a mão.
Olhando-me com súplica, vi no cristal do teu olho.
Não posso fugir de mim mesmo.
És deveras digno.
Tua alegria de viver andou pro extremo oposto.
Tento em vão recordar-te.
Fora do cárcere o lugar é seguro.
Tem gente decente, honesta.
Existem almas amigas, almas poetas.
Existem sonhos que podem ser almejados por todos!
Por apenas a bagatela da sua coragem.
Com teus olhos tristes de ressaca, ressaca da vida.
Lembra-me da miséria.
Miserável ser humano.
Apodrece tudo que toca.
Vejo a linha tênue dos teus sinais vitais entre a terra e os céus.
Num ato de te devolver a vida.
Rogo as preces a Maria das Dores tua reles protegida.
És escada, minha estrela.
Com pesar, anuncias tua morte.
Um pouco antes de debruçar-me sobre teu corpo.
Abraças-me e sorri.
Cara amiga te digo que matei, mas matei o pior de mim.
No cristal do teu olho, eu vi.
Não mais o medo.
Vi o desejo de voltar de braços dados para o mundo dos sonhos.

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