O que apavora é o que impulsiona;
O reflexo que vejo sempre é mais distorcido do que o que o outro vê.
E sempre mais honesto.
Vem de dentro, vem de mim.
O novo assusta e o velho me faz sentar;
Naquela macia cadeira de balanço colorida;
Tão quente e amiga.
A cadeira parou de balançar aos poucos, a costa começou a doer.
Por mais novo que fosse o novo, me recebeu de braços abertos.
Com um chá e um sorriso largo, devagar me convenceu.
Já não parecia tão novo, o novo foi ficando familiar.
Não tão confortável, mas era um desconforto gostoso de estar.
Era como procurar coisas proibidas nas gavetas da infância.
Como burlar uma regra inocente;
Era como encontrar o que estava por detrás daquela porta.
Meu caro amigo, talvez minha distorção não faça sentido, confessei.
Para o seu velho amigo, sempre o fará;
Para o novo que tudo desconhece, te dou a possibilidade de me re-contar.
Falando tudo de novo, essa distorção pode mudar.
Torcer mais, distorcer menos.
Mas nunca, como antes.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Cair da Noite
Cair da noite,
Escuridão tardia,
Na espreita de uma sombra
Para o segredo em fim revelar,
Aguçados, mexidos, imersos.
O conforto do silêncio, quebrado pelo desconcertante desejo.
A beleza desta humanidade mortal tão despida
Arranca-me os tecidos sem os dedos;
A boca, hora cor de carmim, hora branca pela ausência de sangue.
O delírio invadindo meus poros, minha sanidade fugindo pelo suor.
Minhas mãos tateando sem sucesso aquilo que não se pode apalpar.
Tal como a cortesã, que tem em sua carne o templo.
Fui prostituída pelo desejo de ser tua,
Dar-te minha carne como templo.
As figuras do imaginário nunca foram tão ricas e provocativas.
Zombam das limitações convencionais.
Ignoram a carcaça do corpo que se tornou pesada.
Maltratam, machucam, deliciam-se.
Tonta, salivo minha pele, implorando para que a distância se encurte.
Teus olhos atentos procuram em mim os efeitos de tua presença.
Raiar do dia,
Luminosidade vital,
Luz que expõe os resquícios da surdina.
A cortesã junta suas peças do chão, se prepara para a partida a francesa.
Com os passos exaustos, te avalia e sorri.
Encontramos o lugar, onde ninguém desconfia do que temos de mais sujo.
Dentro de ti estou segura.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
O quê, não se sabe.
O que não aparece entre uma ou duas taças
Aparece por detrás dos teus olhos temerosos
Queima, queima por dentro.
Os meus versos não alcançam o teu interior
Só alcançam o silêncio.
Sôa como vidro quebrado.
Quando tento medir o tempo, me perco.
Não há medidas, não sei o que há.
Nem se há.
És fiel na tua inconstância
Alternas com a elegância de quem fala sem o som.
Diálogo mudo.
Observo atenta tua meninice
Que me acaricia e me envolve com ternura
Até me adormecer, na palma de tuas mãos.
Aparece por detrás dos teus olhos temerosos
Queima, queima por dentro.
Os meus versos não alcançam o teu interior
Só alcançam o silêncio.
Sôa como vidro quebrado.
Quando tento medir o tempo, me perco.
Não há medidas, não sei o que há.
Nem se há.
És fiel na tua inconstância
Alternas com a elegância de quem fala sem o som.
Diálogo mudo.
Observo atenta tua meninice
Que me acaricia e me envolve com ternura
Até me adormecer, na palma de tuas mãos.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Amália
Eu era espectadora do meu próprio sofrimento.
Lágrimas secas de lembranças inexistentes.
A dor, não me era familiar.
Como gostaria que fosse.
Dizem que a dor é poética.
Eu a vi patética, pela pirraça de não comparecer;
Eu, que carrego em meu nome o amar das vísceras e a dor de Amélia.
Aquela que era mulher de verdade;
Como sofria Amélia.
Se não fosse esse amor que me sobra;
A dor certamente passaria; nem que fosse ao chá das seis.
Como dói não me doer.
Essa dor sentida se esconde nas entranhas do meu útero.
E lá, se torna muda.
Calando-se sabe até quando.
O amor é de fácil pertencer;
Sofrer cabe as Amélias.
Amar e pedir pra sofrer, só as Amálias o fazem.
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